Casa de Areia

Este drama intimista e silencioso de Andrucha Waddington (Eu Tu Eles, 00) é um projeto ousado, de certa forma até arriscado. O filme é pautado pela espera, pela angústia e pela solidão, valores conflituosos na apreciação do espectador. Este, porém, vê-se fascinado com o verdadeiro exercício climático e fotográfico desenvolvido aqui pelo cineasta. A partir da foto de uma casa isolada mostrada a Andrucha pelo produtor Luis Carlos Barreto, imaginou-se a saga de mãe e filha, Dona Maria (Fernanda Montenegro) e Áurea (Fernanda Torres), que, em busca de um sonho que não lhes pertence, chegam aos inóspitos Lençóis Maranhenses nos idos de 1910. A história avança, sutil e exemplarmente, por três gerações de mulheres, somando 59 anos praticando a iminência de uma partida. De início, mãe e filha desesperam-se com a aridez de vida e possibilidades do local. Com o tempo, acomodam-se naquele mundo todo particular. Com magnífica palheta de cores e nuances, a fotografia de Ricardo Della Rosa é talvez o principal narrador dessa aventura em torno do nada (ou do pouco). Com duas ótimas atrizes conduzindo diferentes papéis, na medida em que o tempo avança, o filme intriga e desafia. É a segunda vez que Waddington trabalha com sua mulher, Fernandinha (Gêmeas, 99). Curiosamente, o personagem Massu, que seduz Áurea, é interpretado em dois tempos narrativos por cantores/compositores, Seu Jorge que vira Luís Melodia (assim como Enrique Diaz vira Stênio Garcia).